sábado, 28 de junho de 2008

A arte de negociar


A arte de negociar; aliás, de saber negociar. Em quase todos os momentos da vida é preciso fazer uma opção, que no fundo não passa de uma avaliação do custo/benefício - e isso nas coisas mais banais. Devo ou não comer esse chocolate, que provavelmente vai me levar a comer mais três, e correr o risco de engordar 2 quilos? Aí, começa a autonegociação: bem, eu posso comer dois e, no lugar da pizza e da cerveja que tinha programado para hoje, comer um pedacinho de frango - sem pele - e um legumezinho cozido. Pronto, está feito o negócio. Por maior que seja a amizade entre duas pessoas, na hora de ir ao cinema deve-se decidir por um filme, e nunca os dois querem o mesmo, claro. Depois, é a hora de escolher onde irão jantar. Como se vê, numa noite banal, são vários os momentos de negociação - e sem que nada precise ser dito, quem cedeu na decisão do filme vai ter o direito de escolher o restaurante. Ceder - é essa a palavra-chave: é preciso ceder. Mas, falando francamente, seria tão melhor que não fosse e que sempre se pudesse fazer exatamente - e só - o que nos dá na telha. Ou não? Houve um tempo em que tudo era resolvido de maneira mais simples, embora nem sempre justa: decidia quem tinha o poder, isto é, quem assinava o cheque. Mas, depois da moda do politicamente correto, o mais poderoso passou a dar o poder de decisão ao outro - às vezes - para não parecer ser politicamente incorreto. Complicada, a vida. Digamos que um casal feliz, com tudo em cima, resolvesse programar uma viagem de sonho. Inicialmente o roteiro seria feito a quatro mãos, mas de repente um dos dois quer ir a um lugar que, para o outro, não tem o menor interesse. O stress começa antes da viagem, e egoísta é a palavra mais suave dita no momento de definir os planos. Se um dos dois resolve fazer pé firme, o outro fica injuriado; mas se, por razões estritamente políticas, um dos dois cede - ceder, sempre -, acaba cobrando, de uma maneira ou de outra. Aliás, numa viagem, a escolha do restaurante também é uma complicação, depois é preciso decidir se vão comer peixe ou carne para, conseqüentemente, definir o vinho. Pensa que a vida é fácil? Se as pessoas fossem um pouquinho mais práticas, podiam combinar assim: quem entende mais de gastronomia decide sempre onde comer, o especialista em cinema escolhe o filme, quem a vida inteira se encantou por música clássica elege os concertos. Cada um cuidaria de seu departamento e o mundo seria um paraíso. Só que ninguém admite que não entende de alguma coisa e aceita delegar a quem tem a vocação, o talento e o conhecimento. Se aceitasse, podia tentar aprender, apesar de a experiência demonstrar que algumas pessoas não saberão, jamais, distinguir um bordeaux de um bourgogne - o que aliás não chega a destruir nenhuma reputação. É difícil negociar; mas é bom saber que quem não negocia está condenado a jantar só, viajar só, viver só, envelhecer só e morrer só. O que, pensando bem, não chega a ser uma má idéia.

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